segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Plantio Mecanizado

Depois da curva de aprendizado, plantio mecanizado de cana volta a crescer

22 de outubro de 2012


O plantio manual de cana-de-açúcar, por muito tempo, foi hegemônico no Brasil. Mas, a partir dos anos 90, com o início do crescimento da colheita mecanizada de cana, começava a crescer o interesse pela mecanização do plantio.
Enquanto a evolução da colheita mecânica foi acelerada, anos depois, pelos protocolos ambientais a favor do fim das queimadas, o plantio mecanizado segue ocupando seu espaço devido, principalmente, à crescente falta de mão de obra no campo. “O plantio mecanizado não teve como um dos motivos a questão ambiental e os protocolos como na colheita mecanizada, e sim relação com a mão de obra. Hoje, um dos maiores problemas do setor é encontrar mão de obra para qualquer trabalho no campo”, afirma Daniel Lobo, consultor de Responsabilidade Ambiental da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar).
De acordo com Ricardo Pinto, consultor e sócio da RPA Consultoria, na primeira fase do plantio mecanizado, as plantadoras semimecanizadas dominavam as apostas. “Nos anos 2000, passamos a ter disponíveis as plantadoras automáticas, justamente quando a colheita mecanizada crescia fortemente sua participação e a mão de obra de colheita, que ia perdendo seus empregos no campo ao longo da safra, não ficava mais disponível para plantar cana nas usinas na entressafra. Além disso, também havia disponíveis colhedoras velhas nas usinas para atuarem com as plantadoras.”
Dados da RPA Consultoria mostram que a taxa de plantio manual decresceu justamente com o crescimento da colheita mecanizada de cana no Brasil. Na safra 1997/1998, por exemplo, o plantio manual correspondia a cerca de 90% de todo o plantio feito, enquanto a colheita mecanizada era de quase 15% da colheita realizada. Em 2011/2012, a colheita mecânica chegou a 71%, enquanto o plantio manual decresceu para 40%.
Segundo o professor Luiz Geraldo Mialhe, da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo), a transição do plantio manual para o mecanizado ocorreu em três grandes etapas:
1ª – A distribuição manual de toletes no sulco foi substituída pela distribuição de canas inteiras, com carretas tracionadas por trator ou com caminhão e o picamento manual dos colmos em toletes ocorria diretamente nos sulcos de plantio. Essa mudança teve início em meados da década de 60 e rapidamente foi adotada pelas usinas, pois grandes áreas podiam ser plantadas rapidamente.
2ª – Reintrodução das plantadoras semiautomáticas (com deposição manual) mais avançadas, que incorporavam sistema de picador de toletes desenvolvido na Austrália. Na verdade, a introdução de plantadoras de cana no Brasil ocorreu no início dos anos 50 com máquinas que exigiam o prévio preparo dos toletes para possibilitar a deposição manual no mecanismo das plantadoras semiautomáticas. Dada a baixa capacidade operacional em relação ao sistema com distribuição de colmos inteiros no sulco, esse tipo de máquina foi logo marginalizado. Cerca de 20 anos mais tarde, ao final da década de 70, ocorreram tentativas de reintrodução dessas máquinas equipadas com picador de colmo, mas, por ainda apresentar capacidade operacional inferior ao sistema de distribuição de cana inteira no sulco, seu uso não pegou.
3ª – No alvorecer do segundo milênio, ocorreu a introdução das plantadoras automáticas, utilizando toletes produzidos por colhedoras automotrizes adaptadas. Mas foi somente em 2005 que surgiu a primeira e importante iniciativa de avaliação tecnológica das máquinas plantadoras de toletes que, na época, achavam-se disponíveis no mercado (dos fabricantes Civemasa, Santal e DMB), levada avante pelo Prof. Caetano Ripoli (Esalq/USP).
“Assim, ao longo dessas etapas, foram várias as dificuldades enfrentadas pelos produtores no decurso desses últimos 60 anos de evolução das técnicas de plantio da cana-de-açúcar. Mas a principal delas sempre foi a busca de um sistema de plantio de alto ritmo operacional, com um mínimo de mão de obra e elevada uniformidade de distribuição/posicionamento das gemas no sulco de plantio”, adiciona Mialhe.
Com a tecnologia em mãos e o advento da NR 31, que proibia o trabalho de pessoas em cima dos caminhões na operação de plantio, o jeito foi confiar nas máquinas e aprender a como trabalhar com elas. O setor passou pela chamada curva de aprendizado. Segundo Luciano Menegasso, engenheiro Agrícola do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), esta fase envolveu o convencimento do setor sucroenergético de que o plantio mecanizado veio para ficar e que não havia mais espaço para o sistema de plantio manual.
“A partir deste momento os produtores passaram por um período de reconhecimento e experimentação das tecnologias disponíveis no mercado para se plantar mecanicamente, cujo aprendizado foi consequência da vivência prática no campo. Muitos problemas foram encontrados, porém muitas soluções foram desenvolvidas devido à interação sinérgica entre produtores, fabricantes, universidades e centros de pesquisa”, afirma Menegasso.